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Entrevista com a Cônsul Honorária da Geórgia em São Paulo, Carmen Ruette

Entrevista CARMEN RUETTE – A Cônsul Honorária da Geórgia em São Paulo

Thiago de Menezes * (Portal TUDO QUE HÁ) é recebido por Carmen Ruette na sede do Consulado Honorário da Geórgia em São Paulo, onde conversam sobre a atuação da mulher no universo diplomático e empresarial de São Paulo.

1-) Pessoa viajada, com muitas amizades internacionais, com atuações em diversos campos, você acredita que sua trajetória de mulher – mãe – empresária e socialite chegou a inspirar outras mulheres?

Sempre ouço algumas amigas ou conhecidas me falarem que minha atuação acabou inspirando outras mulheres. Mas acho que isso está dentro de mim desde menina. Cresci no interior paulista, em Itapira, onde uma tia herdou sozinha uma Usina de cana após a morte inesperada do marido e teve que se reerguer, no que foi ensinando para nós, com gestos, atitudes e palavras, como sermos mulheres espartanas, guerreiras, que iríamos sempre estar em busca do empreender, quando essa expressão nem estava tanto em voga.

2-) Uma mulher inspiradora pode atuar diretamente em empresas que sejam inovadoras e que acreditam no preparo, na criatividade e perseverança como busca de várias soluções para seus objetivos? Como você define essa atuação profissional em plena metade de 2019?

Perfeitamente! Acredito que o preparo inicial pode influenciar a natureza inovadora dentro das profissões, acima de tudo, mas pautado no conjunto de conselhos aprendidos, de vidas sendo exemplos e aquela vontade de vencer e se impor numa sociedade machista que todas temos desde que passamos a entender o mundo e suas nuances. Eu era muito jovem e lia jornais, ouvia rádio, prestava atenção nos conselhos de meu pai e de meus tios empresários. Mas, achava que o mundo ia além, acompanhava em revistas trajetórias de mulheres que eu reputava pioneiras, como a primeira mulher a comandar uma potência econômica e política, que foi Margaret Thatcher. Acho que no fundo eu via, no meu mundo ainda pueril, um pouco de mim nelas sendo mulheres.

3-) Você sempre pesquisou governança corporativa, sucessão e profissionalização em empresas familiares. Acredita que a atuação de sua família em muitos campos foi a viga mestra para que empreendesse nessa seara pouco legada às mulheres empresárias?

Com certeza influenciou, pois, eu cresci vendo o dia a dia de empresas distintas, acompanhando sucessos, mas muitos problemas também, o que me resguardou para ter uma base mais sólida em atuações empresariais. Com o tempo, mudanças de cidade e muitas viagens, trocou de focos e empregos poucas vezes, porém a cada mudança, seu sentia que começava uma nova etapa em minha vida, mostrando que ser mulher numa era ainda dominada por homens não é motivo para parar, nunca. E sim prosseguir!

4-) Como você enxerga as discussões atuais sobre o feminismo, o lugar do homem e da mulher na sociedade e na família, etc.? Como isso se confunde com a sua trajetória de mãe?

Segundo meu ponto de vista, como palestrante também, nessas discussões, é necessário pensar na promoção de uma educação não sexista, já que o machismo, de acordo com a imposição do mundo atual, é algo tão cristalizado na nossa cultura que está institucionalizado dentro das empresas, das escolas. Acho que estão abertas muitas cortinas para se falar livremente sobre o feminismo. Não há mais dogmas que impeçam essas aplicações no dia a dia e tampouco preconceitos, pois o mundo está evoluindo de forma muito rápida e a mulher tendo cada vez mais seu papel de destaque. Já minha trajetória de mãe foi pautada com uma seriedade de que eu moldaria uma nova mulher, mas já formadora de opinião. Sempre lemos muito mais homens do que mulheres na literatura. Os meninos e as meninas têm acesso à história contada pela perspectiva dos homens. Eu via isso pelos romances escritos por minha avó que foi escritora. Daí minha mãe, como, educadora, propunha para as filhas o estudo de biografias de grandes mulheres. E foi exatamente isso o que tentei fazer e passar para minha filha.

5-) Vida de empresária e Cônsul Honorária é só glamour ou muitos problemas a serem resolvidos? Fale um pouco dessa sua rotina e de como a concilia com os outros momentos.

Há um certo glamour social, apenas, porém a parte cultural é muito mais forte. E é a ela que deve ser atrelado o desenvolvimento de um pais, que como Cônsul Honorária devo passar, estudar, entender e ajudar a resolver questões diversas, como também indicar, zelar. Minha rotina consular, além de estudar muito e se inteirar das realidades do pais que represento se consiste em eventos desse universo, palestras, exposições, mostras e outros, pois a parte cultural pesa muito para um consulado. Em são Paulo eu represento um importante pais da Europa Oriental, a Geórgia, que forma geograficamente um corredor entre a Europa e a Ásia, ampliando sua relevância para o turismo e para o fluxo de comércio, transporte e comunicação entre essas regiões. E como eu tento conciliar a vida de empresária, cônsul e mãe é um pouco simples, além da dedicação eu costumo dizer sempre em minhas palestras que temos que seguir exemplos, pois cada ser humano traz em si uma biblioteca, um passado, uma história de vida, além de pensamentos e fantasias. Pessoas unidas sinergicamente, eficaz na busca de um ideal comum, são capazes de criar maravilhas

 

(*Jornalista e escritor. Membro da Aconbras – Associação dos Cônsules no Brasil)

Foto: Paula Lopes